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Como a mobilidade urbana limita a mobilidade e inclusão social?

Como a mobilidade urbana limita a mobilidade e inclusão social?

Por Adriana Martins* – Nos últimos meses, atendendo um cliente na área da mobilidade, andei mergulhando em lives, pesquisas e estudos sobre o assunto, principalmente os relacionados às tendências que vem se acelerando para tornar o direito de ir e vir, de fato, acessível à todos nós cidadãos.

Nesse investigar, percebi o quão longe estamos, se não formos dependentes diários, da realidade do transporte coletivo. E acima de tudo, o quanto a falta de acessibilidade a modais interconectados e eficientes impacta jornadas e qualidade de vida no âmbito coletivo, limitando inclusive a mobilidade social no sentido da igualdade de oportunidades e de inclusão.

Entre uma das belas surpresas desse mergulho, conheci a Nina, uma startup que oferece tecnologia para mapeamento de assédios e pontos críticos de violabilidade nos meios de transporte. Fundada por Simony César, empreendedora que cresceu acompanhando a profissão dos familiares no setor, filha de cobradora de ônibus (como ela faz questão de comentar), e com outros parentes na linha de frente em operações de ônibus e metrôs, a jovem conviveu com a realidade e as dores de quem utiliza e de quem trabalha para o transporte público nos grandes centros urbanos. Entre elas, uma que só recentemente tem recebido atenção de leis e políticas públicas: a do assédio sexual banalizado e violência contra mulheres no transporte coletivo, ou em suas adjacências.

Pesquisas sobre segurança pública revelam que mais de 10 milhões de brasileiras com mais de 16 anos afirmam ter sido vítimas de assédio ou violência no transporte público, sendo que menos de 10% delas procura uma delegacia da mulher para prestar queixa, limitando os dados sobre essas ocorrências. E foi com base nesses números crescentes que a Simony, filha de quem foi vítima de assaltos e outras experiências traumáticas, ao cursar sua Universidade no Recife, percebeu quantas colegas eram vítimas do mesmo tipo de problema, sendo que algumas chegaram a abandonar o curso por não suportarem o medo de estarem tão expostas à falta de segurança na jornada entre casa/trabalho e universidade. E isso porque, a visão de mobilidade urbana não endereça problemas fora dos meios de transporte, como pontos de ônibus mal iluminados, ao lado de terrenos baldios cobertos por mato, ruas sem câmeras de segurança ou qualquer outro tipo de tecnologia que permita monitorar e garantir a segurança dos usuários, em especial mulheres.

Mas da visão da Simony, que conheceu de perto as dores dessa jornada, nasceu uma ferramenta de report e inteligência de dados, capaz de mapear pontos críticos da mobilidade urbana, inclusive de casos além do assédio, para quem está na base da pirâmide social – mulheres das classes C, D e E, em geral heavy users do transporte coletivo. Muitas vezes excluídas socialmente por falta de acesso a recursos como educação e mobilidade segura, estas “Ninas” ganharam uma forma fácil de relatar abusos, violência e apontar locais de risco ao longo dos seus percursos, fornecendo assim, os dados que faltavam para os agentes públicos com o poder para solucionar problemas.

Dessa forma, fica claro que o contexto da mobilidade extrapola as questões de falta de investimentos em infraestrutura e recursos para aliviar a superlotação nos meios de transporte coletivos. Aliás, fatores críticos por si só, pois também inibem a adesão de usuários em potencial, que poderiam gerar receita a favor da expansão da malha, deixando seus carros na garagem, contribuindo também para a redução das emissões de poluentes e a qualidade do ar nos grandes centros.

E assim, esse mergulho me fez entender que mobilidade urbana e mobilidade/inclusão social estão conectadas e que devem amparar sem distinção de gênero ou qualquer outra característica, o direito de ir e vir com segurança, deslocando-se de forma eficiente e rápida a qualquer hora do dia, a fim de garantir as vias de acesso para a formação educacional e/ou geração de renda, que tornem viável direitos humanos tão básicos, como conviver mais com os filhos, e no caso feminino, proporcionar à todas nós, “Ninas”, o sonhado equilíbrio entre família e conquistas pessoais e profissionais.

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*Adriana Martins é consultora de planejamento estratégico e de marketing na Bi2 Partners com foco em reputação de marca, sustentabilidade e ESG (Environmental, Social, Governance). É fundadora do marcasdeBem, que nasceu para dar visibilidade às ações de marcas éticas, honradas e ativistas em prol da prosperidade das pessoas e do planeta. Conecte-se com a autora.

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