Pela Justiça Climática
Por Cindy Correa* – Essa é a hora. Começou a COP-26.
Este é o momento para falarmos do tema nos churrascos da família, nas mídias sociais, no bar com os amigos, com os vizinhos. Sem Bolsonaro, mas com GretaMania, segundo os jornais britânicos. Então vamos vestir nosso espírito de Copa do Mundo para esse evento global. Vamos aproveitar todo começo de reunião da firma, via Zoom, para falar do tema. “Você viu a rodada da COP de ontem? Menina, nem te conto….”
Vamos abraçar a GretaMania, levar as palavras do IPCC para os amigos incautos que continuam comendo carne sem saber do peso desse produto nas emissões. E é bastante. Vale ver os gráficos que a The Economist fez nessa matéria com o título “Tratar a carne como carvão traria uma grande redução nas emissões de gases do efeito estufa”. A estimativa da reportagem é que combinando as emissões da operação e das questões de desmatamento envolvendo indiretamente essa cultura, o gado produz 12% das emissões de GEE.
Não. Não quero acabar com o churrasco e nem com essa importante cultura agrícola, mas temos que gradativamente trazer esse conhecimento para o dia a dia, de forma tranquila, sem panfletagem para não assustar e para que assim possamos escolher a carne da empresa que tenha certificação de origem. Sem ligação com o desmatamento ilegal e com compensação do metano da digestão do ruminante, via sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que além de plantar árvores, melhora a qualidade de vida do animal. Dá para ir para o churras com a consciência mais leve.
Vamos falar do MUBE- Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia que declarou emergência climática e terá a exposição “Por um sopro de fúria e esperança: uma declaração de emergência climática” durante os dias da conferência das partes. A instalação inunda uma parte do museu. Arte para chocar e para pensar. Leve uma amiga. Tome um café orgânico. Vamos movimentar o tema.
Chama a criançada, os jovens para aprenderem a se manifestar, para quem sabe fazer parte de uma turma e se encontrar na vida. Uma dica é o grupo da modinha, a versão nacional do Fridays For Future. Mas quer saber, por que não vai lá e cria o seu próprio movimento? Chama as conhecidas, pinta cartazes, faz uma assembleia. Vai para a rua. Me chama. Já estou colocando purpurina ecológica no meu cartaz.
Aliás, as palavras relatadas no estudo são medo, ansiedade, zangad@ e impotência. Portanto, mãos à obra. Esse evento é a desculpa para adotar o protagonismo. E saiba que segundo a pesquisa a juventude brasileira está entre as mais preocupadas no mundo com o tema. O grupo de amigos pró-clima vai ser grande.
A justiça climática está ganhando espaço no debate. Nos primeiros dias da COP-26, Elizabeth Wathuti, ativista climática do Quênia, contou que 2 milhões de quenianos estão passando fome em decorrência das mudanças climáticas. São dois anos de poucas chuvas e uma previsão de mais 12 meses de seca. Então, um país, que junto com toda a região do sub-sahariana emitiu menos de 0,5% dos gases efeito estufa acumulados no mundo, sente esse quadro global na pele da sua população, na fome e sede dos seus filhos.
Mesmo com dados de cortar o coração e com problemas tão globais, não podemos cair na inação. Temos que ter esperança. Temos uma delegação brasileira forte, com muitas empresas e sociedade civil unida no sentido de lutar pelo mercado de carbono global e pela bioeconomia. Os governadores da Amazônia estão lá. Temos motivos para comemorar, com uma forte mobilização nacional e mundial.
Então, vamos aproveitar que o tema está na moda para nos apossarmos dele. E quem sabe conseguir avançar no nosso interesse de sobreviver com o mínimo de dignidade. David Attenborough, no seu discurso disse algo na linha que não podemos deixar a espécie mais inteligente do planeta caminhar por conta própria para o apocalipse, guiada pela ganância de lucros no curto prazo. Lembrando que é a ganancia do curto prazo favorece alguns poucos.
Aliás, dados do Federal Reserve, dos Estados Unidos, indicam que a distribuição de renda naquele país está especialmente concentrada na geração baby boomers, com 53% do total. A geração X tem 25% e os millennials têm apenas 4,6%. Detalhe, quando os baby boomers tinham a idade dos millennials já tinham 21% da riqueza. Isto é, estamos concentrando a riqueza e distribuindo desgraça climática.
E o topo da pirâmide já está gastando CO2 e dinheiro em viagens espaciais, criando uma rota de escape, após quase destruir esse planeta. Como dizem as sábias palavras da banda As Meninas na música de 1999, “é que o de cima sobe e o de baixo desce”. Eu não terei dinheiro para ir morar em Marte. Então, preciso desse planeta saudável. E você?
*Cindy Correa é jornalista, estudante de química, está no comando da Comunicação da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) e quer começar um negócio de cosméticos verdes.
Referências
The Economist – Treating beef like coal
Nature – Estudo juventude eco-ansiedade
Dados FED de distribuição de riqueza
Clipe As Meninas
Mostra MUBE
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